Deus em Mim ou Deus Para Mim?
Os templos evangélicos estão superlotados de pessoas, mas este fato não significa que todos os congregados sejam adoradores. A triste realidade é que existem muitos consumidores das bênçãos de Deus em nosso meio.
DEUS EM MIM OU DEUS PRA MIM? Jo 6:11ss
"[11] Então Jesus tomou os pães, deu graças e os repartiu entre os que estavam assentados, tanto quanto queriam; e fez o mesmo com os peixes. [12] Depois que todos receberam o suficiente para comer, disse aos seus discípulos: 'Ajuntem os pedaços que obraram. Que nada seja desperdiçado'. [13]
Então eles os ajuntaram e encheram doze cestos com os pedaços dos cinco pães de cevada deixados por aqueles que tinham comido. [14] Depois de ver o sinal miraculoso que Jesus tinha realizado, o povo começou a dizer: 'Sem dúvida este é o Profeta que devia vir ao mundo'. [15] Sabendo Jesus que pretendiam proclamá-lo rei à força, retirou-se novamente sozinho para o monte... [25] Quando o encontraram do outro lado do mar, perguntaram-lhe: 'Mestre, quando chegaste aqui?' "[26] Jesus respondeu: A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram [entenderam] os sinais miraculosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos". (João 6.11-15, 25-26 - Nova Versão Internacional).
1. INTRODUÇÃO
Pense por alguns instantes e responda a seguinte questão: O que Deus é para a maioria dos seres humanos nesta geração: objetivo ou objeto?
Agora pense por alguns instantes e responda à pergunta: O que eu quero: Deus em mim ou Deus para mim?
Nota:
- Objeto se caracteriza por mercadoria, bem ou meio de consumo.
- Objetivo, por sua vez, expressa a ideia de propósito, da finalidade daquilo que se pretende alcançar ao tomar uma decisão.
Mantenha a sua resposta em mente porque retornaremos a essa questão no final desta reflexão.
A passagem bíblica em João 6:11ss narra um milagre extraordinário, por meio do qual, o Senhor Jesus alimentou uma numerosa multidão que o seguia (vv. 1-14).
Entusiasmada com a capacidade de Jesus Cristo providenciar alimento gratuito para o povo, a multidão pretendia arrebatá-lo para proclamá-lo rei em Israel (v. 15). Com essa ideia em mente, a multidão mobilizou-se para se encontrar com Jesus onde quer que ele estivesse (vv. 22-24). Mas, ao ser localizado, o Senhor Jesus contestou os motivos daquela busca. Estavam ali adoradores ou consumidores?
Reflita um pouco e responda:
- Para aquele povo, Deus era objeto ou objetivo?
- Que expressão melhor se identificaria com o propósito dos judeus: Deus em mim ou Deus para mim?
A multidão insistia em tornar Jesus rei. O SENHOR, então, começou a mostrar que a motivação do povo ao segui-lo estava errada. O verdadeiro pão não era de trigo ou de cevada, mas aquele que desceu do Céu e estava ali com eles. Jesus apresenta-se como "o verdadeiro Pão do céu" (vv. 25-31).
Esse duro discurso ofendeu e afastou a muitos que se consideravam "seguidores" de Jesus (vv. 60-66). Isso porque a maioria deles via somente o alimento material e não conseguia enxergar a natureza messiânica de Jesus. Eles seguiam a Cristo por causa dos milagres que ele fazia, e não por quem de fato ele era. Aquele povo estava interessado nos "lucros" que podiam obter ao seguir Jesus. Não havia interesse em conhecê-lo no sentido relacional ou espiritual, no apreço de sua companhia e comunhão.
Os Dias Atuais
Decorridos dois mil anos o episódio da primeira multiplicação dos pães ainda tem muito a falar conosco porque os corações humanos continuam focados em benefícios materiais. É lamentável que as pessoas hoje em dia não estejam à procura de um Deus ao qual elas possam adorar. O que as pessoas desejam é a presença de um super-herói que solucione seus problemas e esteja sempre atento quando for preciso socorrê-las.
No meio evangélico a situação não é muito diferente. A maioria prefere os presentes de Deus e não a Sua presença. A geração gospel valoriza mais os atos de Deus do que o esplendor de Sua face. Não interessa muito o que Deus é, mas o que Ele é capaz de fazer por nós. Em vez de servir a Deus, muitos preferem usá-Lo como provedor de bênçãos.
Ignoramos o fato de que as ações benevolentes de Deus têm por objetivo nutrir a nossa fé e não simplesmente saciar os nosso gostos, desejos e interesses pessoais. Tal realidade coloca cada um de nós diante de uma profunda reflexão: Qual tem sido o lema de nosso caminhar cristão?
"Deus em mim" ou "Deus pra mim"?
Queremos a real e santa presença de Deus em nossas vidas, transformando-nos cada vez mais à imagem de Cristo ou temos a intenção de usar a fé para objetivos próprios e conquistas pessoais?
2. O SIGNIFICADO BÍBLICO E ESPIRITUAL DO TERMO "PÃO"
Desde o início do seu ministério, o Senhor Jesus sempre deixou claro que a sua missão era salvar o que se havia perdido (Mt 18:11). Nunca Jesus ensinou que a sua missão era propor soluções extraordinárias para os problemas transitórios da humanidade. Embora Jesus tivesse passado muito tempo curando os enfermos, comprovando com sinais e maravilhas que ele era o Messias prometido, o seu verdadeiro propósito estava voltado para a salvação eterna dos homens. (João 5:24).
Ao multiplicar os pães, a intenção do Senhor Jesus era, através de uma comparação, mostrar aos homens que assim como existe a necessidade humana de nutrição para a vida, o mesmo ocorre na esfera espiritual. Jesus deixou claro que ele era o alimento espiritual de que todo ser humano precisava para a vida eterna.
Pão era o alimento mais elementar da mesa do povo, sendo uma analogia da alimentação em geral, não apenas no sentido de concessão da vida, mas também da sua sustentação. Os judeus consideravam o pão como dádiva divina.
Jesus nasceu em Belém, cuja palavra significa "Casa de Pão".
O Senhor Jesus apresentou a si mesmo como o verdadeiro pão que desceu do céu. O objetivo era mostrar que o "Pão do Céu" é a fonte de alimento para a vida espiritual. Jesus oferecia a si mesmo como alimento espiritual que asseguraria aos homens a vida eterna.
A oferta do Senhor Jesus, porém, não foi bem recebida pelos judeus e "muitos de seus seguidores escandalizaram-se, afastaram-se dele e o abandonaram" (v. 66) porque queriam apenas o suprimento material, não estavam interessados em questões espirituais ou vida eterna. Infelizmente a história se repete e muitos continuam focados somente nesta terra e nos bens temporais.
3. A EQUIVOCADA COMPREENSÃO DA MISSÃO DO MESSIAS
No período do Novo Testamento, havia várias concepções acerca da figura e do papel do Messias. Mas, o tipo de Messias predominante era o "Messias político". Os judeus esperavam um rei totalmente terreno, político, e não um ser celestial. A maioria esperava um soberano combativo cuja primeira preocupação seria a de derrotar todos os inimigos de Israel. (Salmos de Salomão 17.21-22, 26-30).
Portanto, no conceito judaico nos dias de Jesus, o Messias deveria cumprir a sua missão em um plano puramente terreno; sua obra era a de um rei político. Por essa razão, Jesus, mesmo não recusando o título de Messias, manifestava para com ele grande reserva frente a todas as imagens deturpadas que se concentravam em torno do messianismo político naqueles dias.
4. DEUS EM MIM OU DEUS PRA MIM?
A popularidade do Senhor Jesus crescia cada vez mais. Ele já havia demonstrado capacidade de liderança e poder para curar qualquer ferido em batalhas. Agora as pessoas descobriram que ele poderia alimentar todo um exército. Diante disso, os judeus viram em Jesus o general invencível que poderia conduzi-los à vitória contra os opressores romanos. Por essa razão, queriam fazer dele um rei. Ficando claro que o verdadeiro intuito não era servir a Cristo e sim usá-lo.
Para os judeus daqueles dias, o Senhor Jesus era visto como o rei supridor das necessidades básicas dos homens. Lamentavelmente, essa é a realidade presente em todos os tempos.
O povo quer um cristianismo provedor das necessidades nesta terra. O povo quer Deus como objeto, Deus para mim e não "Deus em mim".
Se o que nos leva à presença de Cristo, não for o prazer pela comunhão com Ele, qualquer outra coisa não significa absolutamente nada.
Paulo escreveu: "Se nossa esperança em Cristo vale apenas para esta vida, somos os mais dignos de pena em todo o mundo" (1Coríntios 15.19 - NVT). Ainda que o Senhor Jesus seja capaz de realizar milagres extraordinários em nossa vida, tais milagres não devem ser os pilares da nossa devoção a Ele.
Entendemos que a base da verdadeira relação com Deus é paternal e não comercial. De modo que todos os meus desejos, vontades e sentimentos devem estar alinhados à plena vontade de Deus, através do sacrifício de Cristo em meu favor (cf. Gálatas 2.20).
De volta ao texto bíblico, temos a informação de que os judeus queriam proclamar Jesus como rei "à força" (v. 15). Para aquelas pessoas, imperava o desejo imediato da coletividade em fazer de Jesus um revolucionário líder político. Mas, a recusa de Jesus em permitir que as pessoas o proclamasse rei, frustrou a maioria. Como resultado, "muitos de seus seguidores afastaram-se dele e o abandonaram" (v. 66).
6. CONCLUSÃO
Amados irmãos, mesmo a sociedade sendo dinâmica e evolutiva, os defeitos da natureza humana permanecem. O mesmo que aconteceu em Israel nos dias de Jesus repete-se na atualidade.
Voltemos à pergunta inicial de nossa reflexão.
O que Deus de fato é para nós, objeto ou objetivo?
Deus em mim ou Deus pra mim?
- Somos "consumidores" de Deus conforme a nossa necessidade e depois O descartamos? Ou
- Somos "receptáculos" de Deus onde a presença divina habita e se manifesta?
Que o nosso desejo e oração seja: Pai Celeste, muito mais Deus em mim... Menos Deus pra mim!
Lembre-se: Deus não está a procura de verdadeiros consumidores, mas de verdadeiros adoradores. (cf. João 4.23).
Pense nisso e que Deus nos abençoe rica e abundantemente. Amém!
Nota:
Esta reflexão foi extraída de um texto escrito por Herbert A. Pereira - Kéryx Estudos Bíblicos e Teológicos. https://www.keryx.com.br. Todos os créditos ao autor.