Pérolas Espirituais
PÉROLAS ESPIRITUAIS – Mateus 7:6

Compreendendo o contexto
Antes de explorarmos a abrangência de Mateus 7:6, vamos relembrar o contexto imediato do versículo. Mateus 7:6 está inserido no Sermão da Montanha, onde Jesus oferece diversos ensinamentos sobre como viver o Reino de Deus.
Nos versículos anteriores, Jesus fala sobre julgamento, misericórdia e a importância de buscar a Deus. Em seguida, ele adverte sobre o perigo de entregar o que é santo aos cães e as pérolas aos porcos.
O que significa Mateus 7:6 no contexto do Sermão do Monte?
No contexto imediato:
- "Santo e Pérolas" são metáforas para os ensinamentos e verdades do Reino de Deus.
- Os "cães e os porcos" representam pessoas que não estão dispostas a receber ou valorizar esses ensinamentos.
Na cultura judaica do primeiro século
Há três palavras que precisam ser entendidas no contexto da cultura judaica do primeiro século:
- Cães eram considerados animais impuros e geralmente representavam pessoas hostis à fé.
- Porcos também eram animais impuros para os judeus e simbolizavam aqueles que não valorizam as coisas sagradas.
- Pérolas representam algo de grande valor, e no contexto, simbolizam primariamente a sabedoria divina, os ensinos do Reino de Deus, o Evangelho da Salvação.
Interpretação Primaz
Jesus está dizendo aos seus discípulos que nem todos estão preparados ou dispostos a receber a verdade do Evangelho. Algumas pessoas reagem com desprezo ou hostilidade, assim como porcos que, ao receberem pérolas em vez de comida, as pisoteariam e seriam capazes de atacar quem as deu.
Isso não significa que não devemos pregar o Evangelho a toda criatura, mas sim que devemos ter discernimento e sabedoria ao compartilhar verdades espirituais, evitando desperdício ou exposição desnecessária ao desprezo e hostilidade.
Aplicações Práticas
- Evangelismo com Sabedoria – É nosso dever pregar o Evangelho, mas sem insistir quando há rejeição agressiva (Mateus 10:14).
- Não Forçar o Ensino – Em certo momento é possível que alguns não estejam preparados para entender verdades profundas (1 Coríntios 2:14).
- Discernir o Público – Jesus, por exemplo, falava em parábolas para ocultar certas verdades daqueles de coração endurecido (Mateus 13:10-13).
Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada. Tito 3:10-11.
Primeira Conclusão
Essa passagem (Mateus 7:6) nos ensina a equilibrar zelo com prudência, respeitando o tempo e a disposição das pessoas para receberem a mensagem espiritual.
Segundo Aspecto - A abrangência do termo "santo"
O versículo "não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas" (Mateus 7:6), traz um ensino que vai além da pregação do Evangelho.
A Bíblia utiliza a palavra "santo" para se referir a tudo que é separado para Deus, seja um objeto, um lugar, uma pessoa ou um ensinamento.
Nesse sentido, podemos entender que "santo" em Mateus 7:6 não se limita apenas ao Evangelho, mas a tudo que é sagrado e separado para Deus.
Aplicando o ensinamento de Jesus
Ao compreender a abrangência do termo "santo", podemos aplicar o ensinamento de Jesus em diversas áreas de nossa vida.
- Discernimento na evangelização: É importante discernir o tempo e a forma de compartilhar o Evangelho, buscando a direção de Deus para falar com as pessoas certas e da maneira mais adequada.
- Mordomia dos dons e virtudes espirituais: Devemos usar o que é santo com sabedoria, investindo-o em coisas que glorifiquem a Deus e contribuam para o bem daqueles que não banalizam o que é sagrado.
Ao compreendermos que a palavra "santo" se refere a tudo que é separado para Deus, somos desafiados a viver de forma mais coerente com os princípios do Reino de Deus em todas as áreas de nossa vida. Nosso viver diário deve ser um reflexo da santidade de Deus em tudo que fazemos, seja no trabalho, na família ou na igreja.
O que são pérolas no sentido comum?
Pérolas são gemas orgânicas formadas dentro de moluscos, como ostras e mexilhões. Elas se formam como uma resposta a irritações internas, como a entrada de um grão de areia ou um parasita. Para se proteger, o molusco secreta camadas de nácar, uma substância composta principalmente de carbonato de cálcio, que se acumulam ao redor do irritante, formando a pérola.
As pérolas podem variar em cor, forma e tamanho, dependendo da espécie do molusco e das condições em que se formam. Elas são valorizadas na joalheria e têm sido usadas como adornos e símbolos de riqueza e status ao longo da história. Existem pérolas naturais, que se formam espontaneamente, e pérolas cultivadas, que são produzidas com a intervenção humana, introduzindo um núcleo no molusco para iniciar o processo de formação.
O que são pérolas cristãs?
São preciosidades pessoais.
Os discípulos de Jesus possuem valores, experiências, dons e propósitos que são preciosos e que não devem ser banalizados ou desperdiçados com aqueles que não os valorizam. Isso amplia o entendimento para algo mais subjetivo: os tesouros individuais que cada discípulo carrega.
Reforçando a ideia de zelo e discernimento
Essa interpretação adicional reforça a ideia de zelo e discernimento que permeia todo o ensinamento de Jesus nesse trecho. Não se trata apenas de proteger o Evangelho, mas também de proteger os tesouros que Deus nos confiou individualmente.
Podemos entender "as vossas pérolas" como:
- Experiências com Deus: Momentos de intimidade e aprendizado com Deus são preciosidades que devem ser compartilhadas com sabedoria e discernimento.
- Dons espirituais: Nossos dons são ferramentas poderosas para servir a Deus e ao próximo, mas não devem ser usados de forma indiscriminada ou para autopromoção.
- Ideias e propósitos: Nossos projetos e sonhos para o Reino de Deus são "pérolas" que precisam ser cultivadas e compartilhadas com pessoas que compartilham da mesma visão.
- Relacionamentos: Nossos relacionamentos com familiares, amigos e irmãos em Cristo são tesouros que devem ser valorizados e protegidos de influências negativas.
Se considerarmos que cada cristão tem dons, experiências, revelações e valores pessoais moldados por sua caminhada com Deus, então "as suas pérolas" podem representar aquilo que é precioso para cada um - suas convicções, propósitos, insights espirituais e até mesmo seus sentimentos e segredos.
O Desdobramento Dessa Visão
- Nem tudo deve ser compartilhado com todos – Há momentos em que expor pensamentos, sentimentos ou convicções profundas a pessoas que não valorizam pode resultar em desprezo, aversão ou ataque.
- A individualidade e preciosidade do chamado – Cada discípulo recebe de Deus algo especial e único. Algumas revelações ou dons não são para qualquer ambiente ou pessoa, mas para aqueles que realmente os reconhecerão e os valorizarão.
- Proteção da santidade interior – Assim como as pérolas são preciosas e formadas com tempo e sacrifício, algumas experiências espirituais e lições pessoais devem ser guardadas com discernimento e sabedoria, para que não sejam banalizadas por tolos e escarnecedores.
O conceito de "pérolas" sugere algo de grande valor e beleza, que deve ser protegido e compartilhado com sabedoria. Ao não compartilhar essas pérolas com aqueles que as banalizam, desprezam ou escarnecem, os discípulos estão preservando o valor dessas coisas preciosas e evitando que sejam desrespeitadas ou maltratadas.
Essa leitura se conecta, por exemplo, com Provérbios 4:23:
"Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida."
Nem tudo o que há no coração é para ser exposto a qualquer um.
Exemplos Bíblicos que Reforçam Esse Entendimento
- José e seus sonhos (Gênesis 37:5-11) – Compartilhar suas visões com os irmãos despertou inveja e perseguição.
- Jesus diante de Pilatos e Herodes – Em determinados momentos, Jesus silenciou em vez de tentar argumentar, pois sabia que não seria ouvido com justiça. Mateus 27:11-14.
- Paulo e a diversidade de ministérios – Em 1 Coríntios 3:1-2, Paulo reconhece que algumas verdades mais profundas não podem ser ensinadas a quem ainda não está preparado.
Conclusão
Cada discípulo tem "suas pérolas" que devem ser protegidas e entregues somente a quem realmente as valoriza.
Em Mateus 7:6, Jesus nos chama a proteger e valorizar tudo aquilo que é santo e que Deus nos confiou, usando com sabedoria e discernimento para a glória de Deus.
Que possamos ser mordomos fiéis dos tesouros que nos foram confiados, investindo-os no Reino de Deus e compartilhando-os com aqueles que os valorizam.